nota de rodapé




o nome coreogeografia, como uma síntese de discussões sobre questões de corporalidade, teve sua origem na residência «transcoletivo» que aconteceu em uberlândia/mg, na escola livre do grupontapé de teatro em 2006. para deixar um pouco mais claro o que vem a ser o tema, repasso aqui um pouco do que foi discutido durante os dois meses em que 11 artistas estiveram trabalhando em conjunto.

eu acredito que a coisa mais importante é ter uma vida satisfatória, isso é o bastante.
estou convencida de que todos que crêem que podem “completar” a outra pessoa se equivocam
porque esquecem que todo o mundo é e sempre será “incompleto”,
e que seguirá sendo vulnerável a uma nova crise,
provocado pela experiência de novas percepções.
(lygia clark)

esses objetos coreográficos têm como endereço o pensamento “a casa é o corpo” de lygia clark que, segundo a autora, é mais uma forma de “amarrar-se ao mundo”, percebendo-se enquanto endereço itinerante. e, através dessa intervenção, pretende-se desenvolver um mapa simbólico que abrigue os endereços dos respectivos corpos-casa, criando dispositivos que nos ajudem a pensar e transformar em um trabalho artístico as tensões que se confrontam dentro desse novo espaço. a intenção é desenvolver dinâmicas, apesar das exigências globais, que possibilitem a vivência de um estado expressivo.

» quase-arquitetura

depois que o jogo simbólico foi criado o passo seguinte será tornar os objetos coreogeográficos visíveis e possíveis à experiências. sem a pretensão de traduzí-los em conceitos, ou mesmo em recortes históricos mas, em clarice lispector, propor um diálogo íntimo. para que se possa tomar a liberdade de fazê-lo na primeira pessoa, por que esse encontro se constrói de primeira pessoa a primeiras pessoas, deixando desaparecer sensivelmente as categorias que escondem o sujeito e que se adéquam à outras “modalidades” da arte.

entre outras considerações, a residência pretende desenvolver uma estrutura que mantenha uma correspondência viva com outras ramificações da linguagem como a música, o texto, a dança com a intenção de apresentar o espaço criativo como um processo borrado – "delicado equilíbrio entre um mínimo de ordem admissível e um máximo de desordem" (umberto eco). esse espaço pode ser ativo de uma escritura que absorva elementos desencadeantes – um empilhamento de textos abertos à vertigem, desterritorializando. fazendo uso das distensões que a linguagem oferece, para que também se possa percorrer, construir e deixar-se transformar continuamente pelas idéias em jogo. a apropriação dessa escritura com "fins intransitivos" tem como desejo engendrar um ambiente mais aberto a perguntas do que a respostas.

agradecimentos à:
castor, juliana piquero, lucas laender, fernanda nocam, natália oliveira, aline schwartz, juliana penna, caroliny pereira, ana reis, cássia nunes, fernando prado, maíra spanghero.